A melhor Feijoada do Mundo

- É lá mesmo... pode entrar pelo corredor sem medo... lá no fundo tem um monte de mesas e cadeiras, todas diferentes, cada uma de um jeito, parece loja de móveis usados, mas é lá mesmo... vai por mim...
Geralmente era assim que eu tinha que explicar pela segunda vez para as pessoas como se fazia para ir na “Feijoada da Tia Antônia”. É..., pela segunda vez, porque geralmente na primeira vez a pessoa tinha medo de entrar... isso se achasse o portão no meio da quadra da R. Marechal Deodoro, ali mesmo, pertinho da Praça Independência.
Só levado pela mão é que alguém achava lá... pelo menos no começo, porque depois virou uma loucura de cheio... mesa só antes da uma da tarde... e depois com o pagode então, nem se fala...
Mas foi assim que eu cheguei lá também... olhei, olhei, procurei, rezei e entrei.
Um portão na calçada e um corredor de uns 30 metros entre dois muros altos e lá no fundo um barracão com telha de Eternit, um monte de mesas sem ter nada a ver, uma cozinha esfumaçada e um quarto que servia de copa.
E ali, por trás da fumaça e do fogão, a Tia Antônia.
Uma senhora negra, daquelas que só de olhar você já matava que daquelas mãos só podia sair coisa boa.
E os garçons???
Filho, filha, nora, neto, sobrinho, amigo, amigo do amigo, qualquer um que passasse por ali, dava uma mãozinha.
A caipirinha era um canhão. Um copo dava para seis. Na primeira vez tomei um copo sozinho e quase morri... nossa, não conseguia acertar o corredor da saída nem a pau... A pinga devia ter nitroglicerina... mas só tinha essa... e não dá para comer uma feijoada sem uma caipirinha de entrada, né? Então a gente ia para o sacrifício...
Mas em compensação, a feijoada da Tia Antônia não tinha igual... Vinha borbulhando, feito lava... com tudo que se tinha direito. Arroz, uma covezinha, a farinha e só prazer.
Dali direto para o berço.
Até hoje não achei feijoada igual em Santos. O lugar fechou e nem imagino qual foi o paradeiro da Tia Antônia... mas foram muitas feijoadas e muitas lembranças boas... pelo menos das que eu lembro...
Dá uma olhada na cara de desconfiada da Tia Antônia...:



Acho que era entre os meados de oitenta e noventa... me corrijam se estiver errado...
Salve o Brasil!!!