Neste sábado fui ao “Segura no Bagre”. Para quem não conhece, o “Segura” era um bloco de carnaval de rua que se transformou em uma Banda com Trio Elétrico e após a proibição dos desfiles se tornou numa Banda Parada do tipo “concentra, mas não sai”!
E como sempre, foi muito bom poder rever amigos curtindo e dançando na rua, mesmo com a baita chuva que não deu trégua...
- E daí? Diria o ansioso e intrépido leitor...
- Qual a novidade nisso?
A novidade foi na fila do banheiro. Este lugar comum, assim como tantas outras filas que tornam todos iguais, e que dependendo do tempo tornam seus integrantes cúmplices e confidentes...
Na minha frente tinha um casal cuja moça não parava de sambar... Eu me contorcendo e ela rebolando... aí ela vira e fala:
- Eta coisa boa... não imaginava que aqui em Santos tinha um carnaval tão bom...
E eu perguntei para o rapaz de onde eram...
- Nós somos de Recife... (disse ela cortando o cara), estamos de férias e lá na praia falaram que ia ter banda aqui e nós viemos correndo... que delícia...
E eu fiquei pensando:
- Como é que estes caras que vêm lá daquela loucura do carnaval do Recife e Olinda, conseguem gostar da nossa batucada tupiniquim??? Vai ver é porque não somos tão ruins assim, né?
E é isso mesmo. Na hora que os Cantores começaram a puxar aqueles sambas enredo inesquecíveis de outros carnavais, com a batucada da bateria da escola quebrando tudo, não tinha um que ficasse parado...
O sorriso, a alegria, a espontaneidade, os abraços e a saudade de tantas pessoas e de outras épocas sendo resgatadas, criando aquele clima gostoso que transbordava na emoção dos sambistas amadores das sacadas e janelas dos prédios, como se estivessem no camarote vip da Brahma...
Estava muito legal... mesmo... por alguns instantes pude sentir a descontração ingênua da alegria no ar e no rosto de cada um...
Mas a violência, a frieza e o conformismo vem acabando com nossa maneira de ser santista e de ser brasileiro.
Tudo é perigoso. É proibido concentrar muitas pessoas felizes no mesmo lugar, pode dar confusão, pode ter arrastão, tiroteio, quebra-quebra, cadeirada e briga.
É melhor cada um ficar na sua casa e esquecer que o carnaval existe... que somos alegres, que gostamos de música, de rir e ver pessoas se divertindo na rua... de rever os amigos e de expressar nossas emoções... esqueçam.
Quem nunca organizou um encontro desse não imagina o trabalho que dá e a responsabilidade que é.
Mas para muitos, é melhor proibir tudo. Tranquem as pessoas em casa e soltem os bandidos nas ruas.
Criaram uma fábrica de delinqüentes e revoltados que não conseguem fechar.
E a tradição, a cultura, o modo de ser e de viver de uma cidade inteira vai se modificando, endurecendo, perdendo a graça e fechando o sorriso.
Que os Deuses do Carnaval nos Salvem!
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