quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Já viu alguém chorar por um Político?

Eu vi... e foi com meus próprio olhos que vi e ouvi uma figura política sendo homenageada pelo povo em pleno velório.
Foi muito bonito, aliás, foi mesmo lindo e emocionante ver a espontaneidade de pessoas simples, mas muito simples mesmo falando, se emocionando e chorando ao contar como minha avó e meu avô os ajudaram em Diadema.
Era o velório da minha avó, a D. Sílvia, de 92 anos que acabara de falecer, 7 anos depois de um derrame que a deixou sem movimentos, sem falar e sem entender o que estava acontecendo..., apesar de sentirmos que em muitos momentos ela nos reconhecia e correspondia...
E foram 7 anos que ela esteve longe da cidade que ela e meu avô ajudaram a fundar e a construir.
Diadema era um bairro de São Bernardo do Campo e meu avô, o Prof. Evandro, se elegeu vereador com a intenção de suprir as necessidades da região. Nesta época, meu avô e o pai de um dos presentes iam à cavalo para a sessão da câmara... isso mesmo, à cavalo, e não era no velho oeste, nem no século XV, isso foi apenas há 50 anos atrás... e lá estavam pessoas contando para gente o que meu avô e minha avó fizeram não apenas pela cidade, mas principalmente por cada um, pessoalmente.
No meu ouvido, ali ao lado da minha avó, vinham me contar suas histórias:
- Está vendo aquela moça ali... ela tinha 5 irmãos... eu fui até a casa da sua avó pedir ajuda porque estava entrando água na casa dela e a mãe dela não sabia o que fazer... Sua avó encheu o carro de comida, roupa, cobertor, saco plástico, madeira, tudo que deu e a gente foi correndo prá lá... se não fosse ela não ia sobrar ninguém...
- O senhor é neto da D. Sílvia, né? Então, eu estou vivo graças a ela. Na minha casa todo mundo estava com sarampo e a minha mãe nem sabia o que era isso. Uma comadre da minha mãe levou a D. Sílvia lá no nosso barraco; ela pegou a gente, levou todo mundo para o hospital, consertou a nossa casa, arranjou emprego para minha mãe, colocou todos nós na escola e agora, oh, todo mundo tá por aí...
- Então, queria falar uma coisa... a sua avó fez a gente ser gente. Ela arranjou emprego para minha mãe, fez eu e meu irmão estudar, ela foi no meu casamento, meu irmão fez faculdade... e a gente deve tudo a ela...
- Essa é a Maria... vem cá Maria... esse é o neto da D. Sílvia... então, a mãe da Maria morreu quando ela tinha 6 anos e ela e os irmãos ficavam na rua porque o pai delas saía para trabalhar e as crianças não tinham ninguém que olhasse por elas... Fui falar com a D. Sílvia e ela foi lá no barraco deles e colocou todo mundo na escola...
- Isso mesmo, e ai da gente se faltasse... no dia seguinte lá tava ela no nosso barraco dando a maior bronca... e a gente ia voando prá escola...
E logo que o padre fez a benção, ele perguntou se alguém queria falar alguma coisa...
O velório foi na Câmara dos Vereadores, com vários deles presentes, inclusive o próximo prefeito e ninguém falou nada... aquele silêncio, até que uma senhora, de óculos escuro,chegou ao lado do caixão e apesar de toda simplicidade, com a maior segurança falou:
- Eu quero falar o seguinte: Eu estou muito triste, mas muito triste mesmo porque a D. Sílvia foi a mulher mais importante que essa cidade já teve. Ela e o Prof. Evandro trouxeram a escola, o hospital, ajudaram um monte de gente, fez a cidade crescer, arranjou emprego para todo mundo e é uma tristeza muito grande perder alguém como ela. Eu só vim aqui para agradecer a tudo que ela fez por mim e minha família. Se não fossem eles a gente não ia ser ninguém...
Logo depois mais duas pessoas tentaram falar e não se contiveram em choro...
Os Políticos?... Ora os políticos, ninguém abriu a boca... o que poderiam falar? Quem falou foi o povo. Quem discursou foram as pessoas da cidade, os cidadãos que até hoje guardam na memória aqueles que lhes estenderam a mão sem pedir nada em troca.
Que ajudavam pelo simples fato de fazerem e desejarem o bem de uma comunidade, de um bairro e de uma cidade... um pouco diferente do que a gente vê hoje por aí, né?
Nunca imaginei que tivesse a oportunidade de sentir tanto orgulho na minha vida... e orgulho de ter uma avó vereadora e um avô prefeito... quem diria...
Sílvia Ramos Esquível e Evandro Caiaffa Esquível... descansem em paz e olhem por todos nós.

Um comentário:

Brescia Magalhães disse...

uau!
e eu que cheguei aqui procurando dicas sobre butecos de são paulo, acabei, digamos, quase me debulhando...

avós não são assuntos fáceis, rapaz! ainda mais quando transborda por eles tanta admiração...
minha avó não chegou a ser vereadora, mas dividia o muro de casa com um colégio eleitoral e fazia uma boca de urna desgraçada... em ano de política trabalhava como louca. sempre gostou da coisa pra valer mesmo... fazia coisas do arco da velha em nome de uns remédios ou dignidade... e eu também sempre fui louca por ela!
coinscidências...
medonhas, eu diria! rsrs
parabéns por ter sabido dado valor a exemplos tão bons e tão à mão!!!

depois eu volto pra ver as dicas paulistas...rs!
valeu pela surpresa!